Monday, December 17, 2007

Mim


Pensei ser minha aquela lembrança
de um passado futuro sem distância.
Acreditei nela
e fui embebida seduzida por suas imagens.
Pensei em tantas coisas pra saber quem eu era
que quase não me visto de mim hoje quando saí de casa.
Esperei que todos percebessem que não sou mais um espaço
vácuo vazio de um sonho sem tamanho.
Sendo o próprio sonho e a esperança árdua deste sonho,
é que hoje sou
estrela própria espectante
pedaço lua,
pedaço amante
Seria assim tão súbito esse ser sem saber
Amando pra desproteger?
Lembranças, tragam a tranquilidade sem distância,
um novo olhar das minhas andanças.
Quero saber se sou e se fui
esse caminho difícil que se insinua
ou se nada passa de um cenário produzido ao acaso infame do desconhecido?
Esperei e espero o dia
que cairá em gotas
pedaços de ceú sobre mim
cheiros de lírios e jasmim
um amor e um sonho que de tão suave
penetrou
e eu nem percebi...

Texto: Allana Moreira e Silva
Gravura: Gustave Klimt

Sunday, December 16, 2007

Fleurs

"É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."


(Charles Pierre BAUDELAIRE -Les Fleurs du Mal -As flores do mal-1857)

Thursday, December 06, 2007

O que me acende...


Uvas
Crianças
Sol
Movimentos corporais
Pessoas loucas, delirantes
Lençol limpo com amaciante
Respiração
O nascer do sol
Doce de cupuaçu com pouco cupuaçu
Risada
Água
Danças esquisitas
Afetos
Relações
Pessoas engraçadas
Doçuras
Peixes Abissais
Homens gentis
Mulheres tranquilas
Pimentões vermelhos
Cheiros bons
Cores
Pratos bonitos
Mãos macias
Massagem
Gentileza
Palhaços
Água de coco
Pés
Casos curtos
Silêncio
Pessoas na praia
Famílias
Bagunça de família
Feijão verde
Piquenique
Lírios
Tulipas
Rosas
Cravos
Sonhos
Desenhos
Histórias infantis
Chorar de rir
Deslumbramentos
Baratas mortas
Cactos
Azeite de oliva
Tomates
Barracas de frutas
Sentar na rua
Picolé capelinha
Geladinho
Café com leite
Pão com manteiga
Padarias
Feiras
Espetáculos
Poesias
Amor
Amores

O que me apaga...

Dureza
Barulho
Cheiros desagradáveis
Homens brutos
Mulheres escandalosas
Baratas
Desafetos
Comidas ruins
Monotonia
Pratos de uma cor só
Sabonetes que não fazem espuma
Mormaço
Bombas de são joão
Refrigerante
Hierarquia
Escalas
Check list
Maionese
Suco de laranja com açucar
Agressividade
Alergia
Incompreensão
Pseudocoisas (pseudoamor, pseudointelectual...)
Secreções fétidas

Tuesday, December 04, 2007

Estado de espírito


Tenho estado tão comigo,
e tão de bem comigo,
que experimento uma nova e deliciosa sensação de ver o tempo passar.
Hoje senti a doce brisa da manhã e pude acompanhar o sol subindo sobre a minha cabeça.
O tempo me viu e hoje sei que eu vi o tempo.
O ar que até então passava de relance pelas minhas narinas, hoje foi fundo. Abanou células esse ar que agora deu pra me visitar.
É bom que seja assim...olho de lance, relance e de lince. Olho puro captante.
Mesmo de surpresa, desatenta atenta estou. Efetivamente presente. Espaços novos futuros sob inspirações e expirações coloridas.
Inspirei-me hoje que estou comigo. E ontem e anteontem...e amanhã sabe-se lá quem sabe. Eu não sei de nada. Eu só tenho estado.

Texto: Allana Moreira e Silva
Foto: Denis Wilson