Friday, March 16, 2007

Do susto


do susto
brusco
braços de fadas iam voando
voando
voando...
e acenavam feixes coloridos sobre minha cabeça
feixes iam e vinham
e vinham sempre no escuro
e era uma dor
daquelas que doem de toda
de espinha e
cabelo de medusa
e cada dor que comprimia,
ela vinha e me sorria
toda escancarada
ela me via

Allana Moreira e Silva

Eu sou


Eu sou seu calice de vinho
sua sina
milagre e despedida
sou seu fruto
seu par
sua companheira perdida
e, quando voce pensa que eu
nao sou mais nada,
eu sou seu sopro de vida.
e sou mais
sou a prece, o sonho
o pranto e o conto
sou a oraçao
o amor
a musica de idas e vindas
sou o abraço
o beijo
sou a rosa
e tudo que se possa ser
por me saber querida

Allana Moreira e Silva

Um destino Lunar


Um destino lunar
esperava
em seu pranto
pano e espanto
eu me debruçava
nos muros do mar engolindo goles grossos
de água temperada
e vinham em goles
de desejos esperados
Eu me debruçava toda
olhando o seu contorno róseo
que se confundia com
paisagens esquecidas
e me debruçava diluindo
no contorno frágil da entidade do ar
eu me era e me sou
e sou vaga, divagando
sou o nada, nadando
com o coração
parte e todo
a boiar

Allana Moreira e Silva

Suzanne (em homenagem a L. Cohen)

Suzanne são infinitesimais sensações
e ela vibra como vibram mulheres desvairadas
atordoadas pelo simples fato de tudo poderem
e carregarem consigo o fardo de estrelas que brilham mesmo sem querer
que brilham mortas
esquisitas
intrusas estrelas esfarrapadas
e cheias de vinho
estrelas que se embebedam
vomitando por todas as esquinas
flutuantes
sombrias
correndo nuas por não se entenderem como são
e são mais do que qualquer coisa
solidez invisível à espreita
sugando o vacilo doce dos que não fazem por querer
Suzanne são tontas ruas
tortuosos caminhos achados ao acaso
boquiabrindo
boquiaberta
alerta flecha
flertando maldosamente os que dela se aproximarem
vacilo
sussurrando no ouvido
vacilo que vale a pena ser vivido
por suzanne
pulsa na sua mão
beligerante
escuridão

Allana Moreira e Silva