Ala G
Hoje estou só e comigo milhares de sozinhos desesperados. Ouvindo música pois não se compartilha o que ouve. Pertence a mim o que ouço. E o que como. E tantos outros desejos meus escondidos na ponta da caneta, na lateral dos dedos, na onda do cabelo...É meu o que sinto.
Hoje andei como ninguém. E só eu sei o que andei e com quem falei no subliminar dos meus calcanhares. Amei e odiei tantas pessoas quantas tantas houvessem no mundo no espaço ultra-micro-metafísico de mim mesma. Fui tão soberba quando atravessei a rua que pedi a deus que pisasse em mim o pé duro do céu. Estive tão pequena quando busquei a resposta mais simples e ninguém sabia dar. Só eu sei o que se passou na casa dos meus calcanhares. Ela, que se maqueou e falou detalhadamente na minha frente, surpreendeu-me pelo movimento regular dos lábios marrons. Impressionada, encolhi-me no resto do picolé e não poderia falar mais nada depois dali.
Espiei as portas entreabertas daquelas mulheres loucas, entrecomunicantes, que se dispunham na minha frente. Todas eram todas, ao mesmo tempo, e eram tudo. Falavam de amor e do desespero de amor estando eu, por pouco, a juntar-me a todas elas dizendo que quem sofreu de amor fui eu. Estive tão sozinha que quis roubar a alegria mais ingênua, visto que era insana, que desfilava aos meus olhos. Espiei tão de perto que cheguei a ser vista por "Remédios" que quase voa hoje de tanto pular. A "Remédios",que tem nome de atriz de cinema, com suas bochechas rosadas e a maior carência do mundo.
Disputam comigo elas todas quando estou só. Disputam tanto que chegam a saber dos meus calcanhares e catam segredos nas ondas dos meus cabelos.
Allana Moreira e Silva