CARTA
Chora amor
Disfarça, e chora
pois só eu sei o que é ser lobo
e em mim
nada mais de novo.
Chorei despedaçada por
não saber escrever-lhe sequer uma nota
um cheiro que se perdeu e não se acha
Chora sem amor
Hoje que tudo está triste
de uma tristeza sensata e lúcida
um choro que dói pouco
por ser de tal forma
velho choro preso no pescoço.
Chorei descansada
de um alívio límpido
embebido em água salgada
e cheirando a mim
ao peixe
ao sabor doce de tantas outras paisagens
e ao cheiro de gente
que me sustenta assim
andando devagar...
doce passo lento
como ensinaram-me que deveria ser.
Andando macio na pata daquela gata louca
que arranhou sem doer
e correu assustada pra detrás do muro
Senhora gata louca
concede-me esta dança delicada que só você sabe dançar?
Aceitando-me,
aceitaria também estes meus tropeços?
Aceitaria inclusive que eu te fosse por alguns momentos?
Buscaria em mim a eremita essência do que se ama doendo e que se dói amando?
Chora não mais as minhas patas
Chora de tanto sorrir todo o meu corpo.
Chora amor, sem disfarce
já diziam: "sou o lobo inevitável"
e nele quero me fiar.
Texto: Allana Moreira e Silva
Imagem: Pablo Picasso
1 Comments:
Olá Allana. Que bom que apreciou o Verso Agridoce.
Acabei de ler sua poesia, gostei dela...; vamos nos achando nos "gritos e sussuros" rs
Abraços
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