Mostre-me
Mostre-me suas tristes penas
Se existirem estas tais penas para mostrar-me.
Mostre-me o seu estranho,
Recluso espaço desgarrado
Fútil imperfeito efeito
Causa débil do acaso.
Mostre tudo.
Preste vil favor a estes olhos insones
Põe pupilas descascadas nas entranhas
E veja minha pulsação inútil.
Arranca-me a língua morta
E diz-me o nada feito.
Diz-me nada.
Nada mais de amor.
E sorri com o seu sarcasmo
Dos que choram com a vontade de um cão.
E saia nu, carregando suas labaredas.
Mostre-me este fogo sem calor.
Sua boca desdentada acena-me
E com ela assopro um último hálito quente.
Aqueço pequenas gotas de lágrimas
E lanço-as às suas narinas para que sinta-as,
Mas que sinta com o olfato apurado
De animal predador.
E com isto sinta o gosto de cada átomo desvairado
Cuspindo indigesto este doce duro
E amargo fato
De que nada é puro,
Nem demasiado pútrefe.
Teme a mão que exala o último refúgio
E mostra,
Mostra tudo.
Allana Moreira e Silva
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